DE ONDE VEM A INOVAÇÃO?
A visão tradicional da relação entre empresas, inovação e desenvolvimento credita, fundamentalmente, aos investimentos em P&D, às concessões de patentes e ao pessoal de nível superior empregado nessas atividades a principal responsabilidade por gerar avanços que levam aos desenvolvimentos empresarial, setorial, regional e, portanto, nacional¹. No entanto, essa visão tem se demonstrado cada vez mais limitada, principalmente quando posta à prova de realidades socioeconômicas menos privilegiadas nesse tipo de investimento ou atividade. O fato de, nas economias emergentes, tal relação não se mostrar necessariamente positiva não retira delas o papel de agentes de desenvolvimento.
De onde viriam, então, os esforços de inovação que não seriam capturados pelos indicadores e pelas métricas do chamado modelo tradicional de avaliação?
Uma noção mais ampla de inovação já aparecia nas primeiras definições de Schumpeter (1912, 1942). Para ele, a ideia da mudança gerada a partir das ações de um empreendedor, no esforço de ultrapassar o limite das rotinas existentes, seria inovação e, por isso, um estímulo ao desenvolvimento econômico. O impulso para o desenvolvimento partiria, então, do lançamento de “novos produtos, novos métodos de produção ou de transporte, novos mercados e novas formas de organização industrial”². A ampliação no foco de análise parte do pressuposto de que toda empresa é resultado de conhecimentos aplicados e reconhecidos no mercado com o fim específico de gerar valor e resultados.
A empresa identifica, com base em seu conhecimento, lacunas de mercado e desenvolve soluções que supram tais falhas.
Assim, a inovação é fruto da capacidade das empresas, levando em conta os padrões tecnológicos e de mercado em cada ramo de atividade, de absorver, adaptar e transformar conhecimento em tecnologia e esta em rotinas operacionais, gerenciais e comerciais que levem as empresas a atingir um desempenho superior.
Apesar da atenção dada à capacidade tecnológica, alguns autores indicam que a inovação pode ser o resultado de uma combinação de diferentes capacidades da firma³. Evoluindo nesses estudos4, alguns autores assumem que uma empresa deve ter uma combinação de capacidades de inovação que possa influenciar seu desempenho e, portanto, ajudar a desenhar sua trajetória.
Portanto podemos considerar a inovação como fruto da capacidade das empresas em combinar diferentes conhecimentos para desenvolver, produzir e ofertar soluções que possam suprir as necessidades dos consumidores.
Fonte: MACIEL REICHERT, FERNANDA, FREITAS CAMBOIM, GUILHERME, ZAWISLAK, PAULO ANTÔNIO, CAPACIDADES E TRAJETÓRIAS DE INOVAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS. RAM. Revista de Administração Mackenzie [en linea] 2015, 16 (Setembro-Outubro) : [Data da consulta: 07 de outubro de 2017] Disponível em:<http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/148676> ISSN 1518-6776
² Schumpeter, 1942, p. 83
³ Teece, 1986; Christensen, 1995; Guan & Ma, 2003; Yam, Lo, Tang, & Lau 2011
4 Zawislak et al. (2012, 2013a), Zawislak, Zen, Fracasso, Reichert e Pufal (2013b) e Zawislak, Tello-Gamarra, Alves, Bar-bieux e Reichert (2014)