É incontestável a importância do agronegócio para a economia brasileira. O papel da atividade agrícola na sociedade, especialmente nas regiões do interior do país, é baseado em diferentes produtos que integram as mais variadas cadeias produtivas. No estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, o agronegócio é responsável por cerca de 40% da geração de riqueza. Sendo líder na produção de diversos itens, como café e soja, o Brasil é um dos mais bem posicionados produtores agrícolas mundiais e especialista na produção e venda de commodities.
Dados como esses são promissores se analisados a partir de uma perspectiva econômica. Porém, vistos através de uma lente de maior preocupação ambiental e social, os avanços são preocupantes em razão dos diversos impactos negativos causados ao meio ambiente e às comunidades rurais que ainda acontecem no país. De acordo com Maurício Antônio Lopes, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o estresse hídrico, as emissões de gases e o cuidado social são alguns dos principais desafios atuais que a atividade agropecuária no Brasil deve superar – desafios diretamente ligados a práticas mais sustentáveis.
Todos esses desafios colocados deixam claro que a preservação do meio ambiente e a geração de impacto social positivo fazem parte do real avanço econômico do país. Para que isso aconteça, alguns aspectos mais sustentáveis que já estão em transformação merecem a atenção de produtores rurais, das agroindústrias e do governo: a modernização do campo; novos hábitos de consumo e novos valores da população consumidora; e a constante inovação tecnológica no campo, gerando melhor aproveitamento dos recursos.
A modernização da lavoura no Brasil e no mundo tem provocado mudanças no perfil das populações do campo e da dinâmica social nesses locais. Características e costumes rurais estão gradualmente mudando, mas não desaparecendo. Nesse sentido, a sustentabilidade social acontece na manutenção do diálogo entre rural e urbano, dois importantes espaços de formação da sociedade brasileira.
O estilo de vida do campo não é a única grande transformação que vem se apresentando na atualidade. Os hábitos de consumo da população também estão se modificando. Os consumidores estão cada vez mais atentos à preservação do meio ambiente, à proteção dos animais, ao zelo pela saúde e à responsabilidade social. Com isso, nota-se a ascensão de movimentos como o veganismo, a preferência por consumo de orgânicos e de produtores locais, e o consumo de produtos provenientes de empresas que seguem o conceito de economia circular, para citar alguns exemplos. Fica evidente a necessidade de que as firmas acompanhem essas e outras mudanças nos comportamentos dos consumidores.
Finalmente, as tecnologias também estão mudando, visando justamente suprir essas transformações que estão acontecendo. Práticas aplicadas hoje em dia, como a agricultura de precisão, que consiste na utilização de aparelhagens avançadas com o intuito de melhorar o cultivo de determinadas espécies, têm como foco a preservação do meio ambiente através da redução do consumo de água na irrigação e da redução do uso de agrotóxicos com o monitoramento do solo, por exemplo. O uso inteligente e eficiente dessas novas tecnologias torna possível preencher lacunas existentes no agronegócio brasileiro para que diferentes nichos de consumidores sejam atendidos, produzindo, assim, produtos de maior valor agregado e com um nível de produtividade mais elevado.
É essencial que o agronegócio brasileiro seja apoiado por pesquisas com foco na solução desses novos desafios. É também importante enfatizar que cada empresa compreenda o ambiente em que está inserida e mapeie onde pode agir para superar os desafios. Dessa forma, garantem-se a preservação do meio ambiente e o impacto social positivo, além do alcance a novos mercados consumidores para os produtos do agronegócio e aumento da competitividade da produção brasileira, dentro e fora do Brasil. As inovações cada vez mais rápidas e constantes no uso das tecnologias permitem compreender as diversas dimensões da sociedade (econômica, ambiental, social, etc) de forma interdependente, um equilíbrio entre o avanço econômico e o impacto sustentável que se pretende gerar.