Brasil gera conhecimento mas não aplica. Por quê?

Apesar da grande produção científica, como evidenciado pelo alto índice de publicações e citações da pesquisa brasileira (veja aqui e aqui), o Brasil ainda fica para trás na aplicação de conhecimento e no desenvolvimento tecnológico. É o que mostra a queda de duas posições do país no Índice Global da Inovação (IGC), que mensura diversos indicadores, inclusive o depósito de patentes. O ranking é realizado em parcerias pela Universidade Cornell, o INSEAD e a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI). No caso do Brasil, o país que ocupava o 64º lugar como mais inovador do mundo e atualmente ocupa a 66a posição. O ranking é liderado pela Suíça, seguida de Suécia, Estados Unidos, Países Baixos e Reino Unido.

Para Ana Paula Mattei, especialista em propriedade intelectual que hoje faz parte da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Estado do RS, “no caso brasileiro, a proteção de patentes de conhecimento está concentrada em universidades e não em empresas, o que deveria ser ao contrário”

São variados os fatores que causam esse problema, entre eles uma série de questões burocráticas. Por exemplo, são necessários aproximadamente 10 anos ou mais para obter o registro de patente no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI). O INPI é um órgão público e federal que reúne os pedidos de registro de marca, patentes, desenhos industriais, depósitos de software e franquias realizados no Brasil, e outros serviços especializados, como o depósito de cultivares. Tratam-se de áreas abrangentes e com demandas complexas, que exigem conhecimento técnico específico e envolvem análises que precisam ser bem feitas. Esse é mais um entrave para o depósito de patentes no Brasil.

As diferenças nas posições nos rankings de patentes e de produção científica brasileiras também evidenciam a falta de interação entre universidade e empresa. As universidades detêm conhecimento científico, recursos humanos e materiais que podem contribuir de forma significativa para o desenvolvimento do setor produtivo. As empresas, por sua vez, possuem como principal objetivo atender as demandas do mercado consumidor a partir do fornecimento de produtos e/ou serviços. A partir da interação entre universidade e empresa poderão surgir novos métodos e melhorias em produtos e processos que atendam as necessidades dos consumidores, gerando impactos positivos na economia.