O Brasil não está preparado para o século 21… ainda!

Por Nathália Pufal

De acordo com dados divulgados recentemente pela Confederação Nacional da Indústria, o Brasil levará mais de meio século para alcançar o produto per capita de países desenvolvidos, se mantida a taxa média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional registrada nos últimos 10 anos. Como podemos reverter isso?

Diversos casos mundo afora mostram que é a partir do conhecimento aplicado a novas soluções oferecidas em forma de produto pelas empresas que setores e, em uma esfera maior, países avançam a patamares mais elevados de desenvolvimento tecnológico. Contudo, o cenário no Brasil apresenta algumas dificuldades para que isso aconteça.

Ainda somos um país onde o baixo nível de circulação de conhecimento e a baixa base tecnológica geram um perfil de produto com limitada penetração de mercado – ou por serem produtos básicos facilmente copiáveis, ou por serem tecnologicamente ultrapassados. A estratégia que acaba restando é a de concorrer por preço, dada a homogeneidade dos produtos, o que tende a gerar níveis menores de ganho para as empresas e, portanto, um reduzido potencial de crescimento do PIB.

Para atingir o padrão de países líderes, é preciso capacitar as empresas brasileiras para que elas sejam capazes de oferecer novas soluções. Ou seja, o que se faz necessário é tornar as empresas no Brasil capazes de inovar. Isso é exatamente o que o Japão e a Coreia do Sul fizeram durante os anos 1960/1970 e 1980/1990 respectivamente; e de alguma forma se testemunha neste momento na China. E isso não é diferente na dinâmica setorial, como as transformações ocorridas nos setores químico, microeletrônico e automotivo ao longo das últimas décadas, por exemplo.

Abordar problemas do século 21 com ferramentas e métodos antigos não funciona mais. Um exemplo disso são as nossas empresas industriais, que têm perdido competitividade nos últimos anos frente a concorrentes internacionais. Ao mesmo tempo em que a chamada Indústria 4.0 (onde ciência e tecnologia são conduzidas de forma integrada para a digitalização, a automação e o avanço do setor) tem se configurado cada vez mais como o futuro desse segmento, as empresas brasileiras têm encontrado dificuldades em se atualizar nesta direção. 

Por isso, é fundamental que se desenvolvam iniciativas para a reestruturação e a capacitação da indústria brasileira a partir de uma reconversão competitiva, tanto em termos de processo, quanto de produto. A indústria brasileira, partindo da base de capacidades existentes, deve buscar construir capacidades no sentido de incorporar princípios e tecnologias da revolução digital em curso. Assim, Indústria 4.0, Internet das Coisas, aplicativos e afins servem para reconfigurar os padrões vigentes e promover a reconversão competitiva.

Na esfera dos processos, deve haver a busca por ferramentas como Inteligência Artificial, Robótica e Big Data, as quais permitam a fusão dos mundos físico, digital e biológico. Na esfera dos produtos, deve haver a busca pela readequação e pelo desenvolvimento de soluções a partir desse processo mais digital, com a oferta de peças especiais, produtos de nicho, servitização, e baixa escala de produção mas com produtos de valor agregado.

Poucas empresas estarão preparadas para enfrentar todas essas mudanças de uma vez só. Existem, por outro lado, milhares de empresas que deverão participar do processo de difusão dessas novas tecnologias aos poucos, de acordo com suas trajetórias, suas capacidades e suas estratégias. O processo de transição para a Indústria 4.0, para a maioria das empresas, será gradual, sendo determinado pelos investimentos realizados e pela capacitação tecnológica e produtiva já existente.

Em um país cada vez mais integrado à economia global, a competitividade da indústria dependerá da capacidade das empresas nacionais em incorporar as novas tecnologias da Indústria 4.0, permitindo que elas possam competir em igualdade de condições em seu mercado interno e externo. São passos como esse que permitirão que o Brasil cresça ‘hoje’ – e não daqui meio século.

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Nathália Pufal é Doutoranda em Administração com ênfase em Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com período sanduíche na George Washington University (EUA) a partir de setembro. É pesquisadora do Núcleo de Estudos em Inovação (NITEC) e se dedica ao estudo da construção de capacidades de inovação das firmas.