De que forma aplicar conhecimento para adotar inovações sustentáveis?

Por Leandro Nascimento

Uma das demandas que vêm sendo exigidas das empresas para que se mantenham competitivas é a atuação em ações de sustentabilidade, sejam elas econômicas, sociais ou ambientais. Os consumidores estão cada vez mais preocupados com questões sustentáveis, pois estão mais informados durante as tomadas de decisão de consumo. Entretanto, a sustentabilidade não é apenas relevante para os consumidores, mas também para gerar valor aos demais stakeholders. 

Com base na sustentabilidade, as empresas geram lucros para os acionistas ao mesmo tempo em que desenvolvem ações para proteger o meio ambiente. Além disso, melhoram as condições de vida das pessoas em diversos grupos como: comunidades, instituições, e até os próprios trabalhadores das empresas (Savitz & Weber, 2007). Assim, a sustentabilidade ressalta a importância do comprometimento das empresas com a satisfação e a conservação de recursos ambientais e sociais, que são essenciais para a manutenção de sua sobrevivência ao longo do tempo.

E como as empresas podem desenvolver ações sustentáveis?

As empresas engajadas com a sustentabilidade são aquelas preocupadas em entregar produtos e serviços com os atributos valorizados pelos seus consumidores e que os mantenham em posição de destaque no mercado em relação aos seus concorrentes. A valorização desses atributos no mercado é o que garante o potencial de inovação. Portanto, para gerar inovação é essencial o desenvolvimento de novos produtos e processos que consumam menos recursos naturais, que facilitem a reutilização e reciclagem de materiais e que diminuam a emissão de poluentes resultantes de processos produtivos, para citar alguns exemplos. Para que novos produtos e processos sustentáveis sejam desenvolvidos, é necessário o aporte de capital intelectual e a aplicação de ferramentas de gestão do conhecimento. Esses três construtos possuem relações, mostradas na Figura 1, que podem melhorar a atuação das empresas. O modelo conceitual é baseado em três proposições (P1, P2 e P3) que demonstram as interconexões entre capital intelectual e gestão do conhecimento para a adoção da sustentabilidade nas empresas.

Figura 1. Modelo Conceitual: Relacionando Capital Intelectual, Gestão do Conhecimento e Sustentabilidade

Fonte: Nascimento e Sousa (2019, p. 100).

Ao analisar o modelo, percebe-se que os processos de criação, transferência, armazenamento/recuperação e aplicação do conhecimento (gestão do conhecimento) são essenciais para o desenvolvimento do capital social, do capital humano e do capital estrutural (capital intelectual). Além disso, as dimensões do próprio capital intelectual também influenciam nas dimensões que compõem o processo de gestão do conhecimento. Assim, o modelo demonstra que o capital intelectual exerce influência no desenvolvimento dos processos de gestão do conhecimento, enquanto a gestão do conhecimento exerce influência nas dimensões do capital intelectual (P1).

Também é possível compreender que o capital intelectual é fundamental para o alcance da sustentabilidade, pois é por meio de seus constituintes (os capitais social, humano e estrutural) que as organizações conseguem induzir a criatividade e a inovação nos produtos e serviços que propiciam a minimização de impactos socioambientais negativos. Assim, o modelo propõe que as dimensões do capital intelectual exercem influência positiva nas dimensões da sustentabilidade  (P2).

Além disso, o modelo ressalta que os processos de criação, transferência, armazenamento/recuperação e aplicação do conhecimento, que baseiam a gestão do conhecimento, são essenciais para o desenvolvimento inovador de produtos e serviços com foco socioambiental. Assim, propõe-se que a gestão do conhecimento com base em seus processos constitutivos exerce influência positiva na adoção da sustentabilidade (dimensões social, ambiental e econômica) nas empresas (P3).

O modelo proposto reafirma a importância do conhecimento como uma vantagem competitiva sustentável, sendo a gestão do conhecimento uma forma de criar valor para o consumidor e auxiliar na formulação de valor para empresas, com base na capacidade de identificar o que os clientes querem de um produto ou serviço. O modelo também ressalta a importância das pessoas na formulação de práticas e ações em prol da sustentabilidade e compreende o capital intelectual como um meio para o alcance de vantagens competitivas e benefícios de longo prazo para empresas.

Como aplicar esse modelo nas empresas?

Isso depende das características de cada empresa, como setor de atuação, nível de desenvolvimento tecnológico, nível de impacto socioambiental e os recursos e capacidades existentes. Assim, cada empresa deve desenvolver as dimensões conforme suas próprias características, de forma a maximizar o capital intelectual e a gestão do conhecimento para impulsionar a adoção da sustentabilidade.
* Esse texto tem como referência um ensaio teórico publicado por Leandro Nascimento na edição de 2019 (volume 9, número 2) do periódico acadêmico NAVUS – Revista de Gestão e Tecnologia. Para ler o artigo completo, acesse:

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Leandro Nascimento é doutorando em Administração pelo PPGA/EA/UFRGS, mestre em Administração pelo PROPAD/UFPE e bacharel em Administração também pela UFPE. É pesquisador do Núcleo de Estudos em Inovação (NITEC/UFRGS) e do Coopetition Network Lab (UFCG). Atualmente, desenvolve pesquisas nas áreas de Inovação, Estratégia, Coopetição, Sustentabilidade e Empreendedorismo Social.