Depois de centenas de milhares de anos, a população mundial alcançou a marca de 1 bilhão de pessoas, para logo em seguida, em apenas 200 anos crescer cerca de sete vezes mais, sendo esperados a marca de nove ou dez bilhões para o ano de 2050 (UNFPA, 2015). Esse crescimento intenso trouxe uma maior complexidade nas estruturas sociais e ambientais, trazendo importantes questões: Como será possível manter todas essas pessoas? Como alimentá-las? Como frear esse irrestrito uso de recursos? A produção e consumo de alimentos exerce um importante papel para dar suporte à população, mas ao mesmo tempo é um dos mais importantes elementos pressionando o meio ambiente (FAO, 2015). Para alcançarmos um desenvolvimento mais sustentável, é preciso haver mudanças drásticas nos padrões de produção e consumo, ou seja, mudanças na forma como os alimentos são produzidos, processados, transportados e consumidos são indispensáveis (Del Río, 2005; FAO, 2015). Expansão e mudanças econômicas rumo a novos métodos de produção são diretamente relacionados à inovação. Porém, crescimento econômico está geralmente relacionado a problemas ambientais, que junto com o aumento da consciência ambiental dos consumidores e pressões sociais e governamentais, forçam as empresas a pensar em maneiras de reduzir seus impactos ambientais (Bocken et al., 2011). Para combater problemas relacionados ao desempenho (Ettlie, 1983) ou ameaças devido a problemas ambientais (Horbach, 2008; Dangelico & Pujari, 2010), muitas vezes, as empresas optam por estratégias de adoção de inovações ou, especificamente no contexto ambiental, eco-inovações. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, do inglês Organisation for Economic Co-operation and Development) definiu eco-inovação como “a criação de produtos (bens e serviços), processos, métodos de marketing, estruturas organizacionais e arranjos institucionais novos ou significativamente melhorados, que – com ou sem intenção – levam a melhorias ambientais em comparação com outras alternativas relevantes” (OECD, 2009, p. 2). Assim como a abordagem da inovação, a eco-inovação é multi e transdisciplinar (Fagerberg, 2005; Santolaria et al., 2011; Boons & Lüdeke-Freund, 2013), o que acaba levando à existência de uma série de termos relacionados – inovações sustentáveis, inovações ambientais, inovações “verdes” e eco-inovações, sendo esta última a principal expressão adotada neste trabalho. Esse estudo visa responder às seguintes questões de pesquisa: Quais são as condições para integrar inovação e sustentabilidade no setor de alimentos? Ou seja, quais são os drivers que influenciam a adoção de eco-inovação e melhoria do desempenho ambiental das empresas brasileiras de alimentos? O objetivo geral foi identificar como as empresas brasileiras de alimentos integram inovação e sustentabilidade, verificando quais são os drivers que influenciam a adoção de eco-inovação e melhoria do desempenho ambiental. Os objetivos específicos são: i) identificar na literatura os principais drivers para adoção de eco-inovação; ii) investigar e validar esses drivers como construtos que influenciam a adoção de eco-inovação e melhoria do desempenho; iii) propor um framework para analisar drivers internos e externos que influenciam a adoção de eco-inovação; iv) identificar o perfil das empresas eco-inovadoras; v) verificar a influência dos drivers na melhoria do desempenho ambiental, e vi) verificar o papel da preocupação gerencial ambiental na adoção de eco-inovação e na mediação da relação dos drivers com a melhoria do desempenho ambiental. Para realizar essa pesquisa e atingir os objetivos estabelecidos, diferentes técnicas de pesquisa foram realizadas e, dessa forma, compuseram os procedimentos metodológicos. Tais procedimentos estão detalhados conforme as etapas de trabalho necessárias para o atingimento do objetivo geral. Primeiro, foi realizado o desenvolvimento teórico e conceitual, com uma ampla revisão de literatura, além de uma revisão sistemática para identificar os principais drivers para a adoção de eco-inovações nas empresas. A seguir, uma pesquisa exploratória foi realizada para validação e desenvolvimento do modelo de análise final. Por fim, foi realizada uma survey com empresas brasileiras do setor de alimentos. A análise dos dados dessa fase quantitativa foi realizada por meio de modelagem de equações estruturais. Os resultados empíricos deste estudo sobre os drivers para a adoção de eco-inovação, com base em um conjunto de dados final com 525 empresas de alimentos do Brasil, revelam alguns novos e relevantes insights. Em termos de influência dos drivers para melhoria do desempenho ambiental das empresas de alimentos do Brasil, verificou-se que o desempenho ambiental é diretamente afetado pela estratégia ambiental, legislações ambientais, preocupação gerencial ambiental, e de maneira muito fraca, tanto em magnitude quanto em importância, pela tecnologia. A preocupação ambiental gerencial torna-se um conceito central neste estudo, tanto como um importante fator de influência direta para aumentar o desempenho das empresas devido à adoção de uma eco-inovação, quanto como um mediador de outros fatores importantes. Preocupação gerencial ambiental é influenciado positivamente pela capacidade ambiental, a estratégia ambiental, legislação ambiental, e pela tecnologia. Compreender o que motivou a adoção de eco-inovação pelas empresas pode ajudar os formuladores de políticas públicas a orientar e prever o comportamento das empresas e desenvolver ferramentas para influenciar uma gestão mais ambiental. Tal resultado também destaca a necessidade de mais educação para a sustentabilidade no mundo dos negócios, bem como para os consumidores. Além disso, o papel fundamental da preocupação ambiental gerencial para aumentar a adoção de eco-inovação e aumentar a desempenho ambiental amplia a consciência sobre a importância de incluir ainda mais a sustentabilidade no currículo escolas de administração. Esta tese trouxe uma abordagem inovadora, com o apoio de literatura robusta através de revisão sistemática, pesquisa exploratória e teste de hipóteses com modelagem de equações estruturais. Isto permitiu desenvolver um modelo conceitual abrangente, reunindo e investigando todos os fatores relevantes na literatura e usando esses fatores com parcimônia no modelo final para a investigação empírica. Os drivers selecionados foram previamente testados na literatura, mas não como um todo e para investigar a sua influência sobre o desempenho ambiental. O teste empírico do modelo com todos os fatores selecionados, por conseguinte, foi testado com uma amostra representativa. O ajuste do modelo foi adequado, bem como as medidas usadas, sendo o modelo considerado como significativo e deve ser testado com diferentes setores, uma vez que os pressupostos teóricos não estão restritos a um determinado setor. Portanto, com um quadro teórico robusto, foi possível utilizar a análise de confirmação proposta.
Autor: Bossle, Marília Bonzanini
Orientador: Barcellos, Marcia Dutra de
Nível: Doutorado
Trabalho completo: http://hdl.handle.net/10183/134085