A Indústria Gaúcha e os próximos passos para a inovação

Em fevereiro de 2019, o jornal Correio do Povo publicou uma reportagem, com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontando que o estado do Rio Grande do Sul teve um crescimento de 5,5% no resultado da indústria. Foi o segundo maior aumento do país, atrás apenas do estado do Pará. O avanço é significativo, tendo em vista que entre os anos de 2005 e 2015 o estado teve uma baixa de 21%

Segundo a reportagem, os setores que direcionaram essa retomada do crescimento são os de bens de capital (como, por exemplo, máquinas de transporte e agrícolas), de bens intermediários (minério de ferro, celulose) e de bens de consumo duráveis (automóveis e eletrodomésticos da “linha marrom”). Percebe-se que, em geral, são setores de atividades econômicas que não exigem um alto nível de intensidade tecnológica, sendo considerados como setores low-tech.

Compreende-se, logo, que boa parte dos departamentos das atividades da indústria gaúcha se caracterizam como low-tech. Contudo, seria equivocado classificar essas empresas como não inovadoras, haja vista que elas possuem, sim, um potencial para a inovação. Um exemplo mundialmente conhecido é a indústria de fabricação de calçados no Rio Grande do Sul -ramo que, de maneira geral, aplica pouca intensidade de investimento em tecnologia. As empresas desse segmento desenvolvem mudanças principalmente na sua produção e no marketing, gerando melhorias nos processos e novos negócios dentro do seu setor de atuação.

A inovação passa a ser uma das peças chaves para alterar a situação industrial do estado, uma vez que inovar possibilita modificação dos papéis e formas de produção, gerando lucratividade, visibilidade e dinamismo para o negócio. Dessa forma, é possível alterar o cenário  pouco dinâmico no Rio Grande do Sul, em que a lucratividade, em boa parte das empresas, passa por um rigoroso controle de custos, implicando no acúmulo de estoques e na perda de poder de negociação dos produtos finais.

Mas como reverter essa situação por meio da inovação?

O projeto Caminhos da Inovação na Indústria Gaúcha, executado pelo Núcleo de Estudos em Inovação (NITEC), revela algumas alternativas. O objetivo é fazer com que as empresas se engajem em um processo de construção de capacidades. Uma transformação gradual que desenvolva tanto uma consciência empreendedora quanto a percepção da necessidade de mudança e criação contínuas. Dessa forma, é importante que haja um ajuste no foco: buscar a eficiência da alocação de recursos e a redução de custos, mas também priorizar a fabricação de produtos de maior valor agregado.

De acordo com o Prof. Paulo Antônio Zawislak, existem quatro tipos de empresas de manufatura: as pouco inovadoras, as operacionais, as de gestão e marketing e as tecnológicas. Para cada uma delas, existe uma trajetória rumo à inovação, e o seu desenvolvimento deve ocorrer de forma consciente, de etapa por etapa.

O projeto também mostra que a maior parte das empresas já vêm de um grande desenvolvimento da capacidade de operações, gerando produtividade. O próximo passo seria, então, fortalecer a capacidade de gestão e marketing. O desafio, contudo, está em estabelecer o nível tecnológico e de desenvolvimento de novos produtos; apenas assim será possível diversificar e ampliar as capacidades de negócio e agregar mais valor.