Inovação é coisa de empresa?

Por Denise Barbieux

Após 10 anos de pesquisa em inovação, afirmo que sim. Inovação é coisa de empresa. São as empresas que desenvolvem bens e serviços, oferecendo soluções para clientes cada vez mais exigentes e conectados.

Ao longo do tempo, as necessidades e os desejos das pessoas mudam, e as empresas precisam acompanhar. Mudar não é difícil, mas demanda tempo e recursos. Fazer algo melhor, diferente, talvez único, com retorno financeiro, é inovar. E inovar traz prosperidade!

Mas será que desenvolver vários novos produtos é inovar? Nem sempre essa premissa é verdadeira.

Inovar pressupõe uma mudança significativa, algo que cause algum impacto no mercado, gerando retorno positivo acima da média para a empresa. Esse retorno positivo é o que instiga a expansão nos negócios, que gera novas contratações e que estimula novos investimentos, um ciclo virtuoso de prosperidade.

Se a mudança não for significativa aos olhos do cliente, ou se não for a desejada, ou, ainda, se não proporcionar destaque do produto na multidão, este está fadado a ficar na prateleira. Por isso, desenvolver produtos pode, ou não, estar relacionado com a inovação. Na era do conhecimento, mais do que nunca, desenvolver bens ou serviços para problemas complexos requer ciência, pesquisa e tolerância ao erro.

Então, Inovação e Educação são faces da mesma moeda?

Sim. O conhecimento é a matéria-prima para a inovação. A inovação depende tanto do nível de conhecimento das pessoas da empresa, quanto dos clientes. Ela está diretamente relacionada com a educação formal das pessoas e com os incentivos aos negócios e à ciência.

Mudar requer sair do trivial, fazer novas conexões e acessar conhecimentos diversos a partir de uma educação formal, de experiências acumuladas e de um pensar “fora da caixa”. A curiosidade e o raciocínio científico são alicerces para novas conexões e é por isso que os índices de educação de uma nação importam para que a inovação gere prosperidade.

Uma grande mudança vem se aproximando…

A indústria 4.0, resultado da aplicação integrada de novas tecnologias digitais e inteligentes, vem exigindo mudanças internas e externas das empresas. Um dos principais desafios está relacionado ao nível de conhecimento para atuação nessa indústria. Não só para desenvolver, mas também para produzir, gerenciar e comercializar bens e serviços.

É a partir do conhecimento formal que novas soluções são geradas, mesmo que, à primeira vista, isso não fique evidente. Por exemplo, jovens só conseguem desenvolver uma rede social inovadora, se souberem programação. Novos tecidos inteligentes só são comercializados no mercado da moda a partir de novas combinações químicas e físicas. Avanços nos estudos de genética para melhorar a qualidade de vida da população estão fortemente baseados na biologia. Ou seja, por trás de soluções inovadoras, sempre há um conhecimento científico que a motivou.

Mesmo com características continentais, em que há espaço para todos os tipos de indústrias e negócios, o mercado de trabalho brasileiro vem ficando mais exigente em termos de educação formal.  Por isso, cada vez mais, novas competências devem ser desenvolvidas, bem como, novas capacidades nas empresas devem ser criadas para reconverter competitivamente o negócio.

Portanto, a necessidade de mudança, especialmente no atual período, não deve ser considerada um movimento transitório, mas sim permanente e de evolução. O novo conhecimento, vindo das mais diferentes formas, deve ser sempre bem vindo e a educação deve ser prioridade para se garantir a prosperidade coletiva e individual.


Denise Barbieux é Doutora em Administração pelo PPGA/EA/UFRGS com período Visiting Fellow na Aston University – UK (2014/2015). Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Inovação (NITEC/UFRGS) desde 2009, com foco em inovação, novas tecnologias e desenvolvimento de produtos. Possui pós-graduação em Marketing (2000) e MBA em Gestão Empresarial (2005) pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM/RS). Possui 21 anos de experiência no mercado farmacêutico e cosmético, tanto em desenvolvimento de produtos, como pesquisadora.