Se já tá ruim, imaginem sem universidades públicas no Brasil.
A questão se divide em duas partes…
Primeiro, quanto à atividade das universidades: a universidade tem que ser universal! Independentemente de onde quer que esteja, uma boa universidade sempre deverá prezar por este princípio fundamental. Claro, para fazer ensino, pesquisa e extensão de nível “universal“, é necessário recursos. Por isso que, quando olhamos rankings internacionais, comparamos os valores gastos pelas universidades, seja no seu orçamento total, seja nos recursos para suas atividades científicas ou, ainda, no gasto por aluno. Nesses quesitos, salvo algumas raras exceções, temos estado em posições intermediárias, quando não relegados às últimas posições. Mesmo assim, isso não tem impedido que galguemos algumas posições interessantes no cenário internacional, vejam por exemplo o ranking de publicações científicas de pesquisadores brasileiros.
Com essas poucas linhas quero apenas dizer que a atividade da universidade, antes de qualquer coisa, independe de condição social ou econômica do seu país de origem. No caso do Brasil, especificamente, além dos recursos já serem menores do que as médias internacionais (inclusive de países com níveis de renda e desenvolvimento inferiores ao nosso), temos concentrada nas universidades públicas a grande maioria das atividades técnico-científicas do país. Não se trata, portanto, de reduzir o orçamento das universidades públicas, mas sim de encontrar formas inteligentes para elevar a atividade das universidades privadas. Sem educação superior, não há a menor condição de fazer um país desenvolvido.
Em países mais desenvolvidos, o número de habitantes formados ou em formação pelas universidades chega a extraordinários um em cada dois habitantes. No Brasil, esse número é de um para oito ou dez. Em um país de mais de 200 milhões de habitantes, algo em torno de 20 a 30 milhões de pessoas com curso superior pode parecer enorme. O problema é que este número tem que ser relativizado pela qualidade e pela necessidade da atividade econômica do país.
E é aqui que vem o verdadeiro problema das universidades no Brasil.
A segunda parte da minha argumentação volta seus olhos para o nível de intensidade tecnológica e, portanto, da capacidade e potencial de geração de resultados que levem à prosperidade social e econômica do país. Pesquisas recentes, tanto em âmbito nacional como regional, mostram, salvo raríssimas exceções, um quadro estarrecedor. Aproximadamente 80% de nossas empresas, isso independentemente do setor de atividade, tem níveis de capacidade de inovação muito inferiores ao de países do mesmo porte do Brasil. Em sua grande maioria, nossas empresas apostam em inovações em áreas meramente operacionais, que são justamente aquelas com menor impacto na geração de riqueza. Cerca de 50% dos investimentos em inovação das empresas brasileiras se concentram em processos produtivos, quando já se sabe que o impacto deste esforço gera apenas algo em torno de 10 a 15% de incremento no resultado esperado. Seria necessário investir em pesquisa, desenvolvimento, melhorias organizacionais profundas e desenvolvimento de soluções de mercado. E é aqui que entra o papel das universidades.
A questão toda é: devemos esperar um downgrading das universidades, para equipararem-se ao baixo nível de atividade inovadora de nossas empresas, ou fazer de tudo para obtermos o upgrade das empresas a partir das competências, conhecimentos, tecnologias, enfim, dos resultados da atividade de ensino pesquisa e extensão de nossas universidades?
Ao invés de buscarmos contingenciamento dos recursos das universidades, devemos encontrar formas de flexibilizar suas atividades para facilitar tanto o acesso das empresas a riqueza única que ali existe, como tonificar o potencial de distribuição dessas pesquisas e seus resultados para toda sociedade brasileira.
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Qual a sua opinião sobre o papel das universidades brasileiras para tornar o país mais desenvolvido? Deixe seus comentários!
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