O que faz cada Capacidade de Inovação?
Cada empresa deveria poder saber, seja em função das características setoriais e da intensidade tecnológica de seu ramo de atividade, seja por conta do arranjo de suas capacidades, se sua estratégia de inovação deveria estar focada em produto, processo, gestão ou marketing. As empresas deveriam estruturar sua estratégia e seus objetivos a partir do respectivo potencial de inovação sugerido por cada capacidade predominante.
O modelo das capacidades de inovação apresenta a inovação como o resultado das quatro capacidades das empresas. Ou seja, a inovação como resultado de atividades que, em vez de se concentrarem em um local, departamento ou função, espalham-se por toda a empresa.
A capacidade de desenvolvimento diz respeito às habilidades e rotinas necessárias para pôr em prática o esforço de busca, absorção e aplicação de informações e conhecimentos necessários para o processo de desenvolvimento, adaptação e uso de uma tecnologia, dos produtos daí derivados e dos processos decorrentes. Podem-se ainda gerar inovações como novos produtos e materiais ou desenvolver novas máquinas e equipamentos com o propósito de alcançar maiores níveis de eficiência técnico-econômica¹.
De certa forma, essa capacidade está, em última instância, direta e indiretamente envolvida com o desenvolvimento de produtos, em especial o que faz disparar tal processo e seu fluxo (conteúdo, lógica e atividades).
A capacidade de operação consiste nas habilidades e rotinas que a firma possui para pôr em prática, em certo período de tempo e de acordo com padrões e sistemas técnicos já desenvolvidos e definidos, as operações diárias relativas ao processo produtivo. Esse tipo de capacidade tem por objetivo gerar inovações, a partir da melhoria e do desenvolvimento de novos processos ou técnicas produtivas, que resultem em produtos de melhor qualidade e maior eficiência produtiva ao menor custo possível². Essa capacidade diz respeito aos esforços de planejamento, organização, preparação, programação, disparo e controle da produção.
A capacidade de gestão refere-se ao conjunto de habilidades e rotinas necessárias para realizar a tarefa geral de coordenação organizacional da empresa e de seus recursos. Para muitos, a ideia de ter uma empresa se resume nessa capacidade. Na realidade, trata-se de uma estrutura organizada que, a partir do uso de diferentes técnicas e ferramentas, visa a garantir o funcionamento e a contínua busca de eficiência interna dos processos, das práticas e das competências por trás daquilo que a empresa produz³. Em sua essência, estão o processo de tomada de decisão estratégica, o foco da gestão (por exemplo, em planejamento, integração, coordenação e controle de áreas diretas e de suporte da empresa) e o modelo de gestão (isto é, regras e normas de funcionamento rotineiro das demais capacidades da empresa), necessários para a sua implementação.
Por fim, a capacidade comercial está relacionada às habilidades e rotinas necessárias para pôr em funcionamento, de acordo com os padrões econômicos vigentes do mercado em questão, os processos de marketing e comercialização de uma empresa. Esse tipo de capacidade consiste em pesquisa e relacionamento com o mercado, busca de fornecedores e clientes, desenvolvimento de marcas e reputação, atendimento e negociação, venda dos produtos, processo logístico (suprimentos e distribuição) e pós-venda. O objetivo é constantemente reduzir o custo de transação, aquele oriundo da necessidade de encontrar sempre os melhores preços, tanto para o que se compra como, principalmente, para o que se vende4 . A predominância dessa capacidade está ligada à posição da empresa em sua cadeia de valor. Quanto mais próxima do consumidor final estiver a empresa, maior será a necessidade de uma estrutura formal-mente estabelecida e de técnicas modernas de relacionamento com os clientes.
Diz-se que uma empresa tem baixo nível de capacidade de inovação quando, independentemente do setor de atividade, suas atividades de mudança são reativas e se restringem praticamente à simples resolução de problemas de rotina.
Em geral, essas empresas são mais atrasadas tecnologicamente, pois mantêm uma mesma linha de produtos desde o início de suas atividades e baseiam seu comportamento estratégico no foco em operações e, portanto, na redução de custos (Freeman & Soete, 2008).
Empresas com nível superior de capacidade de inovação são aquelas sempre atualizadas, proativas e que desenvolvem sistematicamente novos produtos.
Essas empresas garantem seus níveis de excelência por acompanharem de perto a fronteira científica e tecnológica. São empresas líderes, muitas delas inovadoras em produto, processo e gestão, com forte atuação tecnológica (Teece, 1986). De longe, são as menos numerosas em qualquer ramo de atividade, mas que fazem toda a diferença.
¹ Lall, 1992; Bell & Pavitt, 1995; Iammarino, Padilla-Pérez & Von Tunzelmann, 2008; Zawislak et al., 2012, 2013a
² Hayes & Pisano, 1994; Chandler, 1990; Slack & Lewis, 2008; Zawislak et al., 2012, 2013a
³ Penrose, 1959; Barnard, 1966; Mintzberg, 1973; Chandler, 1977; Zawislak et al., 2012, 2013a
4 Coase, 1937; Williamson, 1985, 1999, 2002; Argyres, 1996; Madhok, 1996; Langlois & Foss, 1999; Kotabe, Srinivasan & Aulakh, 2002; Mayer & Salomon, 2006; Zawislak et al., 2012, 2013a
Fonte: MACIEL REICHERT, FERNANDA, FREITAS CAMBOIM, GUILHERME, ZAWISLAK, PAULO ANTÔNIO, CAPACIDADES E TRAJETÓRIAS DE INOVAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS. RAM. Revista de Administração Mackenzie [en linea] 2015, 16 (Setembro-Outubro) : [Data da consulta: 07 de outubro de 2017] Disponível em:<http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/148676> ISSN 1518-6776