Série Paris (2): A cadeia dinâmica de inovação no agronegócio

Faz parte da missão do NITEC participar dos principais eventos do mundo nas áreas de inovação e tecnologia. Recentemente, alguns dos pesquisadores do grupo aprovaram seus papers na R&D Management Conference, que acontece entre os dias 17 e 21 de Junho na École Polytechnique, em Paris, na França. Este é o segundo post, de uma série de quatro, em que divulgamos os principais resultados do trabalho.

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Um dos artigos aprovado para apresentação na conferência foi o “Dynamic innovation chain and capabilities linkages in agribusiness: insights for emerging countries” produzido pelas doutorandas Ariane Ávila e Nathália Pufal, a professora Fernanda Reichert e o coordenador do grupo, professor Paulo Zawislak.

A inovação no agronegócio

A natureza da inovação no agronegócio é diferente da inovação na indústria, em especial pelo seu aspecto biológico. O agronegócio lida com diferentes formas de vida e não com elementos inertes como as empresas manufatureiras. Enquanto a indústria lida com produtos inertes de forma localizada e concentrada, o agronegócio envolve uma produção espalhada geograficamente e entre diferentes atores. Em outras palavras, os agentes do agronegócio são inerentemente limitados em suas capacidades e, portanto, dependentes uns dos outros.

É por isso que a literatura sobre inovação no agronegócio está principalmente focada no nível da cadeia. Considerando as interfaces tecnológicas existentes, cada ator participante de uma cadeia precisará buscar em outros atores a complementação de seus conhecimentos, suas técnicas e capacidades limitados. Suas ligações darão origem a uma cadeia de valor.

No entanto, cadeias de valor tradicionais – baseadas principalmente em relações simples de mercado e estratégias orientadas para a produtividade – tendem a diminuir o surgimento de novidades e, assim, dificultam a dinâmica da inovação. O padrão de transações e o foco em commodities tornam as cadeias de valor do agronegócio, especialmente em países emergentes, voltadas para o mercado, focadas em soluções de produção em massa para o fornecimento de alimentos. O aumento de volumes levará a reduções de preços e margens, o que impacta a inovação.

A abordagem tradicional para cadeias de valor do agronegócio, normalmente conduzida através das lentes da Economia de Custos de Transação, é, no entanto, bastante restrita para lidar com essa natureza especial de inovação. Tende a restringir a inovação à troca entre pares de tecnologia já desenvolvida em uma visão estática da cadeia de valor.

As capacidades de inovação traduzem como cada agente econômico configura seus conhecimentos, técnicas, recursos e habilidades para gerar novas soluções de valor. Nesse sentido, toda empresa deve ter uma combinação de capacidades para conduzir atividades de desenvolvimento, operações, gerenciamento e transações. No caso do agronegócio, os agentes econômicos não possuem necessariamente todas as capacidades de inovação. Além da interconexão puramente transacional, espera-se que exista uma complementaridade de capacidades entre agentes de diferentes elos. Portanto, a dinâmica da inovação no agronegócio deve considerar o nexo de arranjos das capacidades em cada elo.

Cadeia Dinâmica de Inovação (DCI)

Com base nisso, propomos o conceito de Cadeia Dinâmica de Inovação (CDI). A CDI tem como ideia principal a conexão entre os diferentes elos de uma cadeia de valor por meio de arranjos de diferentes capacidades individuais de inovação. Assim, todos os atores da cadeia participam da construção de um conjunto de interfaces tecnológicas, ligadas por suas capacidades de inovação. Cada um dos principais elos (por exemplo, fornecedores, produção, processamento, varejo) terá um arranjo particular de recursos complementares para atender a resultados esperados específicos.

Por fim, a dinamicidade da cadeia é determinada pelos arranjos de diferentes capacidades individuais com base no conjunto de interfaces tecnológicas por trás de qualquer transação dentro de cada link.